domingo, 16 de março de 2008

A intenção não era esta...

A intenção não era mesmo esta... era a de simplesmente me meter um pouco com alguns dos Manos que resolveram invadir a Verdadeira Catedral com Poesia... Ao mesmo tempo achei que era justo dar espaço a alguns Manos que infelizmente não aparecem na verdadeira Catedral porque se sentem amedrontados e inibidos cada vez que acabam de escrever um comentário e por, não sei que razão o apagam imediatamente, mas que no dia a dia nos enchem de alegria com uma boa disposição inacreditável... Só quem os conhece sabe do que falo...

Não é Bébé???

Não é Vera Cruz???

- Pois a coisa não resultou nem com um... nem com o outro! Poesias aqui e do Bébé, tá de chuva! Pois com o maior e melhor comerciante de automóveis do País, Xô Vera Cruz a coisa também não foi famosa... Nestum! Eu a pensar que teria arranjado mais uma forma para que ele aumentasse (ainda mais) a sua fortuna, e ele, nem nada!! É assim!!

Resta-nos a alegria de algumas almas caridosas terem respondido ao primeiro chamamento e assim terem dado vida a este mais ou menos género de Blog, que não pretende ser mais, rigorosamente nada mais que aquilo que é...

Um género de qualquer coisa parecida com um Blog, onde se oferece Poesia à borla, Amizade a troco de nada, e onde era suposto o Vera Cruz vender carros, mas não vende!

Também confesso que nunca imaginei que algum dia este sítio tivesse mais de quatro ou cinco mensagens... já vai em 35 o que indicia que o VC perdeu pelo menos 15 negócios... Lixou-se!

Abraços e cá vou eu de volta para a verdadeira Catedral
Love you all

43 comentários:

Branca disse...

Vasquinho,
Acho que percebemos a sua intenção, só não sabíamos que era dirigida principalmente ao Bébé e ao amigo Vera Cruz, que embora apareça pouco na Catedral, já ouvimos falar muito nele. Se não me engano parece que é aquele amigo que faz o truque de puxar a toalha, muito divertido, não me esqueci dos vídeos que passaram na Catedral e fixei bem o mano Vera Cruz.
Mas, Vasco eu já disse ao menino que tudo em que põe a mão é um êxito e este blog não vai ser excepção. Adorei ler o seu comentário hoje na Catedral àcerca do XL e mesmo estando longe já tinha percebido que o meu amigo sabe tanto como os melhores, é mas é muito modesto e o seu segredo é também ser um grande anfitrião e isso não se aprende nas escolas, é um dom nato.
Vim cá para acrescentar mais um poema mas não pude ficar indiferente a este belo texto.

Ah, ainda vamos cá trazer os seus amigos Petit e Vera Cruz, não vê o mais velho que não escrevia há tanto tempo uma linha e agora é uma alegria.

Beijinhos

Branca disse...

Agora para os irmãos Ventura:

Prelúdio

Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra desce com ela.

Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guizos
nas suas mãos apertadas...

Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
tem voz de noite descendo
de mansinho pela estrada.

... Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada.
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo,
Mãe-Negra...

É que os meninos cresceram,
e esqueceram
as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram pra longe,
quem sabe se hão de voltar!...

Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaços,
bem quieta, bem calada...

É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo
de mansinho pela estrada...

Alda Lara

Amanhã há mais, se calhar com buganvílias ou outras cores de Luanda.
Beijinhos

iw disse...

Brancamar,

Estes momentos de poesia que aqui nos deixa são um bálsamo para a alma!

São também uma maneira de nos dar a descobrir certos poetas e seus poemas.

Obrigada!

Beijinhos
Isabel

Anónimo disse...

Mano Vasco

Mano Vasco

Gostei muito do teu Post sabes dentro desse coração muito grande está uma Pesssoa Muito Boa.

Digo como sabes o que me vai cá dentro e a nossa amizade foi uma das realidades que só nós sabemos com que naturalidade foi criada.

Branca não páre pelo que conheço do Meu Querido Mais Velho ela já corre por mim também é bom adoro chorar .

Li o seu poema e lembrei-me tanto da minha infância sabe eu quando vim de Luanda com 13 anos demorei a adaptar-me a Lx.Os meus amigos eram todos essencialmente os que jogavam futebol, a grande maioria negros.

Tocavam à porta de minha casa e eu era o loirinho e assim berravam Loirinho vem está na hora ao portão e eu escapava-me para jogar futebol c/ eles a tarde toda.

Algumas vezes o Meu Pai lá vinha parava o carro e dizia Pedro para casa, mas ria-se no fundo eu sei.

Fui felizmente habituado a crescer junto deles e de outros amigos também ,mas foi bom para mim.

Gosto e o meu caminho há-de ser sempre este em qq sitio onde entro gosto de ser respeitado mas à porta, lá dentro , entrego-me às pessoas gosto delas e tenho muito mas muito respeito e amizade por todas elas.

Locomotiva

Anónimo disse...

BOM DIA CATEDRALII

Não podia deixar de agadecer todos os mimos,comentários e elogios que a minha querida amiga Branca me tem feito aqui todos os dias,penso que sem o merecer.Continuarei a tentar merece-los.

V.G. tambem te queria dizer que sou um adepto muito grande desta tua ideia pelas seguintes razões:
-Podemos dar mais facilmente azo á nossa costela brincalhona e como tu bem sabes o que eu tanto gosto dela.
-Podemos encaixar aqui mais facilmente temas e bricadeiras que seriam mais dificeis de pôr na CATEDRALI.

Por fim nem preciso de elogiar toda a tua brilhante carreira no meio da restauração, pois tu já sabes a minha opinião há muitos anos.....Muitos, mas muitos parabens!!!!

BJS E ABRAÇOS A TODA A CATEDRAL II, do mais velho
João Ventura

Anónimo disse...

Negócios pois vamos a els tenho seguros Auto Coberturas:R.Civil 50.000.0000,00 + Assistência em Viagem a 12€/mês e ainda damos um vale de 5€ para compras na do continente

Locomotiva

Branca disse...

Pedro, qual é a Companhia? Já só falta cá a Publicidade, não sei se o Vasco permite.

Para o mano João Ventura vou transcrever algumas palavras que me chegaram ontem por mail do autor daquele poema que dedicou às amantes do Mar: "...até agora não estou
acreditando em como você achou essa poesia que eu fiz há quase 2 anos
atrás e esse blog anda tão perdido e desatualizado (culpa minha!)."

"PS: Agora acredito que palavras atravessam oceanos e montanhas."

Já expliquei ao Rodrigo OLiveira que não fui eu que descobri o poema. Realmente a única coisa que fiz foi seguir uma pista da Isabel e através do google cheguei ao autor. É nestes momentos que a internet se torna maravilhosa, pois parece-me que levamos alguma felicidade àquele jovem brasileiro e quem sabe algum estímulo à sua vida.
Bem haja João. Ainda hoje vou tentar fazer com este poema o que lhe prometi a si e a ele.

E agora para os manos PV:

LUANDA TEM...

Luanda tem…
Tem o Sol que nos aquece
E que o coração estremece
Quando sente o seu calor
Tem ocaso de magia
Quando acaba mais um dia
De trabalho e de suor

Luanda tem…
Tem a Lua feiticeira
Que encanta à sua maneira
Nas vielas da Sanzala
Com um luar sempre etéreo
Que nos enche de mistério
Quando a noite nos embala

Luanda tem…
Tem estrelas encantadas
Que em noites bem fadadas
Brilham como diamantes
E nos fazem sentir então
A ternura e emoção
De encontro de amantes

Luanda tem…
Tem o mar… azul profundo
Grande tesouro do mundo
Onde Neptuno se encosta
E a sua Ilha tão bela
Mais parece uma aguarela
Que Deus guarda como amostra

Luanda tem…
Tem a Kianda brejeira
Que bem à sua maneira
Milongo nos põe na alma
Tem o som lindo do kissanje
Que mesmo ouvido de longe
Nos enleva e nos acalma

Luanda tem…
Tem Marginal deslumbrante
Com ondulado de serpente
E feitiço tão profundo
Que cativa e faz vibrar
A paixão que anda no ar
Por este lugar do mundo

Luanda tem…
Tem som quente de rebita
Tem a cor alegre da chita
Com que se faz o kimono
Tem a Saudade com ela
Que cintila como estrela
E me tem tirado o sono…

Luanda tem….

Letinha
2/05/2007

Beijinhos para todos os brincalhões e poetas aqui da Catedral II

Anónimo disse...

Ódio por Ele? Não ... Se o amei tanto,
Se tanto bem Ihe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!

Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena ...

Florbela Espanca.

Anónimo disse...

Branca

Estou emocionado este Poema Luanda tem......, Branca Minha Querida Amiga tudo me toca no meu coração e ele é grande .

Muito mas muito obrigado e coincidência ou não comentário 7 tbém é o meu numero.

Repito estou emocionado adoro Luanda nasci lá tenho recordações só boas daquela cidade ,e faz-me lembrar muito os Meus Queridos Pais que infelizmente já partiram.

Branca não me estrague mais com mimos, para mim tocou-me muito esta sua lembrança.

Até logo Catedral II


V/ Locomotiva

Anónimo disse...

Para os que não me conhecem esclareço que vou todos os dias à Catedral, mas........ não escrevo.
Conheço o Salvador, o Vasco e mais alguns intervenientes.
Acrescento ainda que gosto tanto de cães como de pessoas e que trabalho há 26 anos com artistas plásticos. Para bom entendedor.... Assim, não resisti a "postar" este poema. É muito comprido mas vale a pena.
Rita Lopes Ferreira

FIEL
Na luz do seu olhar tão lânguido, tão doce,
Havia o que quer que fosse
D’um íntimo desgosto :
Era um cão ordinário, um pobre cão vadio
Que não tinha coleira e não pagava imposto.
Acostumado ao vento e acostumado ao frio,
Percorria de noite os bairros da miséria
À busca dum jantar.
E ao ver surgir da lua a palidez etérea,
O velho cão uivava uma canção funérea,
Triste como a tristeza ossiânica do mar.
Quando a chuva era grande e o frio inclemente,
Ele ia-se abrigar às vezes nos portais ;
E mandando-o partir, partia humildemente,
Com a resignação nos olhos virginais.
Era tranquilo e bom como as pombinhas mansas ;
Nunca ladrou dum pobre à capa esfarrapada :
E, como não mordia as tímidas crianças,
As crianças então corriam-no a pedrada.

Uma vez casualmente, um mísero pintor
Um boémio, um sonhador,
Encontrara na rua o solitário cão ;
O artista era uma alma heróica e desgraçada,
Vivendo numa escura e pobre água furtada,
Onde sobrava o génio e onde faltava o pão.
Era desses que têm o rubro amor da glória,
O grande amor fatal,
Que umas vezes conduz às pompas da vitória,
E que outras vezes leva ao quarto do hospital.

E ao ver por sobre o lodo o magro cão plebeu,
Disse-lhe : - "O teu destino é quase igual ao meu :
Eu sou como tu és, um proletário roto,
Sem família, sem mãe, sem casa, sem abrigo ;
E quem sabe se em ti, ó velho cão de esgoto,
Eu não irei achar o meu primeiro amigo !..."

No céu azul brilhava a lua etérea e calma ;
E do rafeiro vil no misterioso olhar
Via-se o desespero e ânsia d’uma alma,
Que está encarcerada, e sem poder falar.
O artista soube ler naquele olhar em brasa
A eloquente mudez dum grande coração ;
E disse-lhe : - "Fiel, partamos para casa :
Tu és o meu amigo, e eu sou o teu irmão. -"

E viveram depois assim por longos anos,
Companheiros leais, heróicos puritanos,
Dividindo igualmente as privações e as dores.
Quando o artista infeliz, exausto e miserável,
Sentia esmorecer o génio inquebrantável
Dos fortes lutadores ;
Quando até lhe acudiu às vezes a lembrança
Partir com uma bala a derradeira esp’rança,
Pôr um ponto final no seu destino atroz ;
Nesse instante do cão os olhos bons, serenos,
Murmura-lhe : - Eu sofro, e a gente sofre menos,
Quando se vê sofrer também alguém por nós.

Mas um dia a Fortuna, a deusa milionária,
Entrou-lhe pelo quarto, e disse alegremente :
"Um génio como tu, vivendo como um pária,
Agrilhoado da fome à lúgubre corrente !
Eu devia fazer-te há muito esta surpresa,
Eu devia ter vindo aqui p’ra te buscar ;
Mas moravas tão alto ! E digo-o com franqueza
Custava-me subir até ao sexto andar.
Acompanha-me ; a glória há de ajoelhar-te aos pés !..."
E foi ; e ao outro dia as bocas das Frinés
Abriram para ele um riso encantador ;
A glória deslumbrante iluminou-lhe a vida
Como bela alvorada esplêndida, nascida
A toques de clarim e a rufos de tambor !

Era feliz. O cão
Dormia na alcatifa à borda do seu leito,
E logo de manhã vinha beijar-lhe a mão,
Ganindo com um ar alegre e satisfeito.
Mas aí ! O dono ingrato, o ingrato companheiro,
Mergulhado em paixões, em gozos, em delícias,
Já pouco tolerava as festivas carícias
Do seu leal rafeiro.

Passou-se mais um tempo ; o cão, o desgraçado,
Já velho e no abandono,
Muitas vezes se viu batido e castigado
Pela simples razão de acompanhar seu dono.
Como andava nojento e lhe caíra o pelo,
Por fim o dono até sentia nojo ao vê-lo,
E mandava fechar-lhe a porta do salão.
Meteram-no depois num frio quarto escuro,
E davam-lhe a jantar um osso branco e duro,
Cuja carne servira aos dentes d’outro cão.

E ele era como um roto, ignóbil assassino,
Condenado à enxovia, aos ferros, às galés :
Se se punha a ganir, chorando o seu destino,
Os criados brutais davam-lhe pontapés.
Corroera-lhe o corpo a negra lepra infame.
Quando exibia ao sol as podridões obscenas,
Poisava-lhe no dorso o causticante enxame
Das moscas das gangrenas.

Até que um dia, enfim, sentindo-se morrer,
Disse "Não morrerei ainda sem o ver ;
A seus pés quero dar meu último gemido..."
Meteu-se-lhe no quarto, assim como um bandido.
E o artista ao entrar viu o rafeiro imundo,
E bradou com violência :
"Ainda por aqui o sórdido animal !
É preciso acabar com tanta impertinência,
Que esta besta está podre, e vai cheirando mal !"
E, pousando-lhe a mão cariciosamente,
Disse-lhe com um ar de muito bom amigo :
"Ó meu pobre Fiel, tão velho e tão doente,
Ainda que te custe anda daí comigo."

E partiram os dois. Tudo estava deserto.
A noite era sombria ; o cais ficava perto ;
E o velho condenado, o pobre lazarento,
Cheio de imensas mágoas
Sentiu junto de si um pressentimento
O fundo soluçar monótono das águas.

Compreendeu enfim! Tinha chegado à beira
Da corrente. E o pintor,
Agarrando uma pedra atou-lh’a na coleira,
Friamente cantando uma canção d’amor.

E o rafeiro sublime, impassível, sereno,
Lançava o grande olhar às negras trevas mudas
Com aquela amargura ideal do Nazareno
Recebendo na face o ósculo de Judas.
Dizia para si : "È o mesmo, pouco importa.
Cumprir o seu desejo é esse o meu dever :
Foi ele que me abriu um dia a sua porta :
Morrerei, se lhe dou com isso algum prazer."

Depois, subitamente
O artista arremessou o cão na água fria.
E ao dar-lhe o pontapé caiu-lhe na corrente
O gorro que trazia
Era uma saudosa, adorada lembrança
Outrora concedida
Pela mais caprichosa e mais gentil criança,
Que amara, como se ama uma só vez na vida.

E ao recolher à casa ele exclamava irado :
"E por causa do cão perdi o meu tesouro !
Andava bem melhor se o tinha envenenado !
Maldito seja o cão! Dava montanhas d’oiro,
Dava a riqueza, a glória, a existência, o futuro,
Para tornar a ver o precioso objecto,
Doce recordação daquele amor tão puro."
E deitou-se nervoso, alucinado, inquieto.
Não podia dormir.
Até nascer da manhã o vivido clarão,
Sentiu bater à porta ! Ergueu-se e foi abrir.
Recuou cheio de espanto : era o Fiel, o cão,
Que voltava arquejante, exânime, encharcado,
A tremer e a uivar no último estertor,
Caindo-lhe da boca, ao tombar fulminado,
O gorro do pintor !

A Musa em Férias (Idílios e Sátiras)
Guerra Junqueiro (1850 - 1923)

Anónimo disse...

Rita, não a conheço, mas queria dizer-lhe que fiquei com os olhos rasos de água com este poema que aqui deixou! É brutal!

Agora até me sinto mal em «postar» uma singelita poesia dedicada à quadra, mas aqui vai:

Páscoa é ser capaz de mudar,

é partilhar a vida na esperança,

é lutar para vencer é dizer sim ao amor e à vida,

é investir na fraternidade,

é lutar por um mundo melhor,

é vivenciar a solidariedade.

Páscoa é renascimento, é recomeço.

Que neste dia de festa estejamos

unidos pelo mesmo sonho de paz.

Feliz Páscoa!

Paula

Anónimo disse...

BOA TARDE CATEDRAL

Obrigado a todas as Musas que têm preenchido este NOBRE espaço com poemas lindissimos.
Obrigado Branca
Obrigado Paula
Obrigado Rita

Para as Musas aqui vai um poema de um poeta maravilhoso.....


TONINO GUERRA

Anteontem primeiro domingo de Novembro
a névoa podia-se cortar à faca.
As árvores brancas
da geada e as estradas e planícies
pareciam cobertas por lençóis. Depois apareceu o sol
enxugando o universo e somente as sombras
permaneceram banhadas.


Pinela, o camponês, atava as cepas
com ervas secas que segurava entre as orelhas.
Enquanto trabalhava falei-lhe da cidade,
da minha vida que passara num relâmpago
do meu terror da morte.


Aí silenciou todos os rumores que fazia com as mãos
e só então se ouviu um pequeno pardal cantando ao longe.
Disse-me: medo porquê? A morte nem sequer é maçadora.
Apenas vem uma vez.

BEIJOS,do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

BOM DIA CATEDRAL II

Continuo a dedicar ás minhas MUSAS com todo o meu AMOR.....

Recebeste o meu presente?
Então agora abre-o.Sim, com cuidado pois é frágil. Dentro dele existe algo que te pertence.
Não. Não é inquebrável, mas ao ser danificado pode deixar de sorrir.
Leve?
Sim, é leve no peso, mas pesado nos sentimentos.Ele pode não resistir se não puder ser carregado.
Silencioso ?
Sim, é silencioso, porém, ele grita o silêncio do amor que comporta dentro dele
Brincar?
Não, não podes brincar com ele. Ele é sensível, mas vive sorrindo aos teus olhos.
Como tratá-lo?
Trata-o com o maior carinho! E ele te recompensará com todo o amor que dentro dele tiver.
E então… gostaste?
Sim. O presente é o meu coração! Então… …GUARDA-ME

Ana

BEIJOS E ABRAÇOS, do mais velho.

joão Ventura

Anónimo disse...

BOA TARDE PAROQUIA(esta foi a pedido)

De homenagem a um grande amigo,grande poeta e enormissimo pintor.

E tambem ás minhas três MUSAS


Poema de Neves e Sousa

Angolano

Ser angolano é meu fado, é meu castigo
branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor ou coração?

Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!

Beijos e abraços, do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

PAROQUIA

Mais uma homenagem a um grande Homem,Poeta e médico que tenho o prazer de ser seu amigo através do meu PAI e com quem estou cada vez que vou a Luanda.

Tambem é para as minhas três MUSAS



QUANDO A HORA CHEGAR...

A hora
que anda na angústia forte da esperança
e na alegria trágica e cansada
de não esperar.

Quando a hora chegar...

Essa hora
com bandeiras, bandeiras e bandeiras
e multidões vibrantes a passar
para dizer aos homens do passado,
para dizer aos homens do futuro,
para dizer presente
e continuar.

Quando a hora chegar...

Há crianças sem pai,
há crianças sem mãe,
que hão-de por risos novos sobre a boca
que ainda não tem pão;
que hão-de pôr brilhos novos sobre os olhos
que ainda vão chorar;
que hão-de pôr forças novas no combate
que vai recomeçar.

Quando a hora chegar...

Cimentada com lágrimas e sangue
e dor
e ansiedade
e medo de a perder...

Ah!, levem-me também,
eu vou também!
( Eu quero ter esta certeza
se não sobreviver!)...

Cochat Osório

Anónimo disse...

PAROQUIA,agora vou de vez para não mais voltar.

A pressa que tive em enviar estes versos foi com medo de me esquecer, a homenagem a dois GRANDES AMIGOS,GRANDES POETAS E ACIMA DE TUDO GRANDES HOMENS e antes de dizer adeus definitivamente aqui vai o verso" "Ser AMIGO é"...

Às minhas MUSAS tambem presto a minha homenagem !!!

ADEUS; BEIJOS E ABRAÇOS ,do mais velho

joão ventura





SER AMIGO É ...

Estar sempre presente nas horas incertas...
mesmo que seja no silêncio das palavras...

Ser amigo é ...
Dar a sua mão, sem perguntar porquê.

Ser amigo é ...
Pegar no seu lenço e carinhosamente enxugar aquela lágrima
que teimosamente rola pela face,
dar o seu ombro ... e palavras para quê?

Ser amigo é ...
Estar presente na desgraça, sem se interessar que,
aquele amigo nada mais lhe poderá dar,do que a sua infinita dor ...

Ser amigo é ...
Convidar alguém que esteja sozinho, para se sentar à sua mesa ....
confraternizando com ele as suas horas de alegria ...
Verá como esse amigo renascerá um pouco nesse dia ...

Ser amigo é ...
Dar aquele abraço forte e dizer....nunca estarás sozinho....
eu estarei sempre contigo ... nunca estarás abandonado...

Ser amigo é ...
Pegar no telefone e dizer Alô, estou aqui,
estou a milhares de Kms de distância ,mas nunca me esqueci de ti...

Ser amigo é ....
Pegar naquela mão estendida no vazio, á procura do calor humano ....
e colocá-la entres as suas ... aquecê-la, sem nada perguntar.

Ser amigo é ...
Dizer as palavras certas nas horas incertas

Ser amigo é ...
Sentir o sentimento mais profundo que algum ser vivo pode encontrar....
Ele é eterno .... nem o vendaval da morte o apaga,
nem as desgraças da vida, nem a doença,
nem a pobreza, apaga esse amor tão profundo ...
Porque, um amigo é ...
Um anjo que Deus nos colocou na nossa vida,
Só que infelizmente nem todos tiveram a sorte de encontrar
um anjo chamado...AMIGO.

Ondina Teixeira

Branca disse...

PARÓQUIA (Não sei porquê, mas alinho),de repente parece que adivinhei o porquê...

Tenho estado um pouco silenciosa, mas tenho andado por aqui pasmada com toda esta poesia.
O poema da Rita é arrasante! Não pode deixar ninguém indiferente.
Paula o seu texto de Páscoa acaba por estar na mesma linha, é uma proposta de mudança para todos e como tal uma proposta para que se mudem algumas barbaridades.

João, para quem escrevia pouco na Catedral presenteia esta Paróquia com momentos de grande beleza e emoção.

Continue a trazer-nos poemas de África, são sempre bonitos.

Tenho um presente para si no meu espaço. É só clicar em brancamar e ler as linhas finais porque o poema já o conhece e ainda tenho que separar as estrofes. O blogger não sei que tem, ontem à noite e hoje, que me desformata o que escrevo.
Espero conseguir remediar isso.

Beijinhos a todos aqui da Paróquia.

Anónimo disse...

Talvez fosse altura que o blog do Mano Vasco mudasse de nome.

A Catedral -Poemas e Negócios?

Tenho lido poemas únicos e lindos , negócios =0 .

Assobio e agradeço estes momentos.

Obrigado Branca
Obrigado Paula
Obrigado Rita
Obrigado Mais Velho

Adeus

Pedro Ventura

Branca disse...

Aplaudo Pedro,
Hoje o menino está a falar como nunca...
Pela parte que me toca, obrigada, mas eu nem tenho colocado nada de especial aqui, a não ser o poema da Mãe Negra de Alda Lara e Luanda que fui buscar a uma menina de um blog. Mas para amanhã prometo outro.
Não "ouço" por aqui o Vasquinho,então?
O que acha meu amigo?
Parece-me que nunca lhe passou pela cabeça o que isto ia dar...
Deixo-lhe muitos beijinhos, que bem merece pela coragem.
Espero que esteja com a barragem cheia de gente e a isso se deva a ausência por aqui e pela Catedral nas últimas horas...se é assim abençoda seja essa barragem por Cristo Ressuscitado e que a Páscoa seja o início de muitas épocas de ouro.
Apetecia-me mesmo ir procurar um poema, mas estou muito preguiçosa hoje e com muito sono.
Beijinhos
Beijinhos

Anónimo disse...

AAh grande Rita, soldada ALF.

Joana Freud... disse...

No teu rosto começa a madrugada.
Luz abrindo,
de rosa em rosa,
transparente e molhada.

Melodia
distante mas segura;
irrompendo da terra,
quente, redonda, madura.

Mar imenso,
praia deserta, horizontal e calma.
Sabor agreste.
Rosto da minha alma.

EA

Branca disse...

Lindo poema Joana! E tem Mar...hum!

Já dormi, acordei e agora vim aqui espreitar antes de dormir definitivamente. E não é que me escapou aquele poema acima sobre a amizade? Devo ter metido o meu comentário a seguir antes de o ter visto entrar. Agora ao dar uma vista de olhos ao que está atràs vejo que o mais velho escreveu "Paróquia, agora vou de vez para não mais voltar", eu não devo ter lido bem...não mais voltar?
Aqui ao lado também li o PV a dizer "se não voltar antes, desejo boa Páscoa", mas que se passa com os manos Ventura, querem abandonar-nos?
Fico triste, mas respeito...ou será que estão só hoje de acordo com o tempo de chuva? Espero que sim.
Aquele poema " Ser amigo é..." de Ondina Teixeira e os outros dois que o João deixou antes foi uma despedida de peso, mas que eu não aceito como um Adeus, apesar de ter escrito Adeus...
Espero-os amanhã.
Beijinhos

Anónimo disse...

PAROQUIA(EX-CATEDRAL II,EX-CATEDRAL-POEMAS E NEGOCIOS)

Não poderia ir sem desejar, aos intervenientes deste espaço de liberdade, cultura , de conversação e são convivio, a todos uma BOA PASCOA e tambem aos respectivos aterlados, especialmente ás minhas MUSAS
BRANCA
PAULA
RITA
JOANA F.
PRIMA LOBONA
TIA ISABEL
e aos
LOCOMOTIVA
V.G.

Adeus - Eugénio de Andrade
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


do mais velho
João Ventura

Branca disse...

Ai, João que impressão...triste este Adeus final!
Este é um dos poemas de Eugénio de Andrade que mais gosto, o meu querido Eugénio de Andrade cuja poesia adoro e com quem tive o previlégio de me encontrar algumas vezes, já que trabalhamos na mesma Instituição.
Mas tenho para mim que nunca se deve dizer adeus, só quando se morre, todas as outras situações se podem resolver com um até sempre, até breve, etc.
Bem, é melhor pôr ponto final porque é um defeito meu começar a filosofar e nunca mais acabar...
Desejo a toda a Paróquia uma óptima Páscoa e um Bom dia do Pai para os papás.
E o Vasco, que é feito dele?
Meu querido Vasquinho, o das ideias geniais, uma Boa Pàscoa para si.
Beijinhos para todos.
Branca

Anónimo disse...

PAROQUIA

Branca tem toda a razão o meu ADEUS,além de me aproveitar da ultima frase desse maravilhoso POEMA, é clararamente mais um até sempre ou talvez mesmo um até breve(Conforme as novas situações!!!)

Beijos do mais velho

João ventura

Bébé disse...

Ganda VascoG,
Mano amigo,
Manada amiga,

Tudo de bom para vocês?

Vim cá no 1º dia. E nesse mesmo dia propus a mim mesmo resistir a escrever algo aqui. Por uma simples razão - que sendo válida para mim compreendo que não o seja para todos.

Porque escrevo hoje?
Querem saber?
Também por uma simples razão: porque o mano VascoG me merece todo o carinho, seria da minha parte no mínimo ingrato não corresponder à tua amizade, e seria deselegante não me justificar.

Então vamos lá à outra simples razão que me fez até agora não ser "voyeur" deste blog e por consequência não participar. Também o faço hoje porque tal facto foi referido na Catedral.

Em poucas palavras: porque penso que o que está aqui escrito deveria estar na nossa e única Catedral, que é do Salva-Mor e um pouco nossa também, que tem alimentado o nosso Gigantão e nos alimenta a todos nós também. Basta ver o que se tem escrito aqui. Porque não lá? Ao preço que está o combustível não se pode dar ao luxo de o esbanjar.

Penso, logo existo, que por ex. o cão da Rita LF seria um óptimo elixir na Catedral.
O que peço é que não nos dispersemos, oh manada amiga e generosa: concentremo-nos!

Até por uma mais uma razão simples ( comigo é só coisas simples): quanto mais escrevemos e participamos mais nos vamos conhecendo uns aos outros. E isso não é bom, oh manada amiga?
Já dizia alguém que o nosso Santo António LF bem conhece:
" Quanto mais Pedro fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo". Quem foi?

Assim vai uma letra de uma grande música de uma grande grupo ( quem) que sempre adorei.


I'm a melancholy man, that's what I am
All the world surrounds me and my feet are on the ground
I'm a very lonely man doing what I can
All the world astounds me and I think I understand
That we're going to keep growing, wait and see

When all the stars are falling down
Into the sea and on the ground
And angry voices carry on the wind
A beam of light will fill your head
And you'll remember what's been said
By all the good men this world's ever known
Another man is what you'll see
Who looks like you and looks like me
And yet somehow he will not feel the same
His life caught up in misery, he doesn't think like you and me
'Cause he can't see what you and I can see

I'm a melancholy man, that's what I am
All the world surrounds me and my feet are on the ground
I'm a very lonely man doing what I can
All the world astounds me and I think I understand
That we're going to keep growing, wait and see

When all the stars are falling down
Into the sea and on the ground
And angry voices carry on the wind
A beam of light will fill your head
And you'll remember what's been said
By all the good men this world's ever known
Another man is what you'll see
Who looks like and looks like me
And yet somehow he will not be the same
His life caught up in misery, he doesn't think like you and me
'Cause he can't see what you and I can see"

Por isso gente boa: não me levem a mal, continuem na vossa.
mas carreguem a catedral: sinto a vossa falta, ou melhor sinto a falta desta vossa faceta.

Mano VascoG, amigo: não fica zangado comigo não! Senão leva tau-tau do Bébé!

baralhações para todos
Bébé

P.S: segue cópia na Catedral!

Branca disse...

Vasco,
Não podia deixar de vir aqui desejar-lhe uma Boa Páscoa, como a todos os que por cá passam. Estes dias o tempo tem estado mais escasso com tantos afazeres, mas apesar de ter colaborado pouco com poesia neste espaço, espero ainda vir cá colocar um textozinho antes do Domingo de Páscoa.
Muitos beijinhos para todos.
Branca

Branca disse...

Olá amigos,
Com as minhas desculpas para o Bébé, não publicarei este poema na Catedral. Acho-o lindo aqui para refectir, neste tempo de Páscoa, mas já na Catedral o acho um pouco pesado. Irei lá hoje e já fui, como sempre rir-me, brincar se possível...
A Catedral é para mim um espaço de Amor, Paz e Alegria, apesar de tudo o que possa acontecer na minha vida privada ou social, jamais deixarei que transpareça para lá nada que não seja um clima de festa.
Este é um poema escrito em Luanda por um homem que dedicou mais de 25anos a Angola.


PARALELO NOVE

Lá onde o sol é ardente
e o horizonte é mais largo,
é lá que eu vivo.

Lá onde a terra tem mais riqueza
e a gente, menos ambição,
é lá que eu vivo.

Lá onde o ar é mais limpo
e as ruas têm mais mendigos,
é lá que eu vivo.

Lá onde o Verão dura mais
e o bem-estar, menos.
é lá que eu vivo.

Lá onde os velhos têm mais sabedoria
e as crianças, menos brinquedos,
é lá que eu vivo.

Lá onde a floresta não tem fim
e a esperança também não
é lá que eu vivo.

Frei Manuel Rito Dias
Paróquia de Sto António de Luanda


E porque este tempo de Páscoa é tempo de ressurreição, deixo-vos com a esperança de que tanto nós como todos estes povos tenham um percurso de renascimento nos próximos anos.
Beijinhos

Anónimo disse...

Branca

Campainhas tocam menções á minha terra.

Obrigado

PV

Branca disse...

Boa noite pessoal,
Por aqui tudo dorme...!
Saio em silêncio...para não acordar os meninos.
Ah!ah!ah!
Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Bom Dia "Mar de Gente Tão Boa"

Há um caminho marítimo no meu gostar de ti.
Há um porto por achar no verbo amar
há um demandar um longe que é aqui.
E o meu gostar de ti é este mar.

Há um Duarte Pacheco em eu gostar
de ti. Há um saber pela experiência
o que em muitos é só um efabular.
Que de naugrágios é feita esta ciência

que é eu gostar de ti como um buscar
as índias que afinal eram aqui.
Ai terras de Aquém-Mar (a-quem-amar)

naus a voltar no meu gostar de ti:
levai-me ao velho pinho do meu lar
eu o vi longe e nele me perdi.

Manuel Alegre



Leonor Antunes

Anónimo disse...

PAROQUIA

Minha querida Branca

Vamos continuar com os nossos trocadilhos poeticos.
Desculpe a minha ousadia porque aqui há só um poeta que é a Branca e mais nenhum!!!!
Parabens Leonor pela sua brilhante escolha....desta vez é do mais velho.


CONFIDÊNCIA

Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno

Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci

Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos

No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suamente
pronunciares o meu nome

MIA COUTO

Beijos,do mais velho

João Ventura

Branca disse...

Até que enfim! Uf! Pensei que os amantes da poesia se tinham evaporado da Paróquia, mas eis que quando venho fazer mais uma ronda, silenciosamente, encontro afinal companhia. E que pérolas deixaram aqui!

Leonor, este é um dos poemas de Manuel Alegre que mais gosto, é lindo, lindo, lindo...! E tem mar, muito mar como nós gostamos...!

Quanto ao Mia Couto, foi um deslumbramento para mim João, à medida que o ia lendo sem ter ainda visto o nome do autor, senti que era de alguém muito especial, a meio começou a parecer-me que poderia ser um poema meu desconhecido de Eugénio de Andrade, poeta do amor e do erotismo, mas senti também que havia aqui algo de diferente, um momento único de criação de que às vezes os próprios autores se espantam.
Obrigada por este belo momento de extrema sensibilidade e beleza.
Vou procurar mais poesia de Mia Couto, só lhe conhecia a prosa.
Até breve.
Beijinhos para todos os Paroquianos.
Branca

Anónimo disse...

Boa Dia Paróquia

Branca e João muito obrigado pelas vossas palavras

Vocês são fantásticos

Deixo-vos hoje com:


Esperança Amorosa

Grato silêncio, trémulo arvoredo,
Sombra propícia aos crimes e aos amores,
Hoje serei feliz! --- Longe, temores,
Longe, fantasmas, ilusões do medo.

Sabei, amigos Zéfiros, que cedo
Entre os braços de Nise, entre estas flores,
Furtivas glórias, tácitos favores,
Hei-de enfim possuir: porém segredo!

Nas asas frouxos ais, brandos queixumes
Não leveis, não façais isto patente,
Quem nem quero que o saiba o pai dos numes:

Cale-se o caso a Jove omnipotente,
Porque, se ele o souber, terá ciúmes,
Vibrará contra mim seu raio ardente.

Bocage

Leonor Antunes

iw disse...

Boa tarde, Paroquianos

Aqui vos deixo tambem um poema:

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

Beijos
Isabel

Anónimo disse...

PAROQUIA

Aqui vai mais UM, só dedicado a todas as minhas MARAVILHOSAS MUSAS


Metade


Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
pois metade de mim é partida
a outra metade é saudade.
Quer as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos
pois metade de mim é o que ouço
a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora
se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
pois metade de mim é a lembrança do que fui
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o seu silêncio me fale cada vez mais
pois metade de mim é abrigo
a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta
mesmo que ela mesma não saiba
e que ninguém a tente complicar
pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
pois metade de mim é platéia
a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

BEIJOS,do mais velho

João Ventura

Branca disse...

Todos os dias continuo a vir a este espaço, não andei na melhor forma esta semana para intervir, mas quero deixar aqui uma palavra de muito apreço para estas três últimas intervenções, Leonor, Isabel, João Ventura vocês são im paráveis. Este poema de Oswaldo Montenegro termina da melhor maneira.
É com amor que vos deixo e ainda bem que há gente como vós, que não há-de deixar morrer este espaço, que embora nascido de uma brincadeira, é já um sítio onde nos procuramos para ler belas coisas que tentamos dar uns aos outros.
Automóveis é que nada, falta cá o amigo que é ligado a esse ramo...
ah!ah!ah!
Durmam bem, eu estou baralhada com a mudança da hora, mas vou fazer o mesmo.
Beijinhos

iw disse...

Presente de Anos

Diz à mulher o Vicente:
— "Tu não achas, meu amor,
Que hoje, anos do professor,
Devemos dar-lhe um presente?"

— "Com certeza, ele é tão bom,
Trata tão bem o Juquinha...
Já era lembrança minha,
Mandarmos, que é do bom tom."

— "Que deve ser? Vamos, fala:
Um bom livro, alguma jóia,
Aquele quadro de Goya,
Um cachimbo, uma bengala...?"

E discutem, todo o almoço,
Que presente deve ser;
E já, de tanto escolher,
Vão formando um alvoroço.

Juquinha, que escuta quieto,
Tão tola e simples questão,
Pra acabar a discussão,
Apresenta este projeto:

— "Nada de presentes finos.
Dêem cousa que mate a fome:
Que ele é tão pobre, que come
Nas panelas dos meninos."

Olavo Bilac

Beijos
Isabel

Anónimo disse...

Almeida Garrett
Este inferno de amar - como eu amo!-
Quem mo pôs n'alma... quem foi?
Esta cham que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonh talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão seran a dromi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! desperatar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Leonor Antunes

Anónimo disse...

PAROQUIA

Para a BRANCA, LEONOR E ISABEL

É comum a gente sonhar, eu sei,
Quando vem o entardecer;
Pois, eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer.
Vejo um berço e nele eu me debruçar
com um pranto a mim correr
e assim chorando acalentar
o filho que eu quero ter.

Dorme, meu pequenininho
Dorme, que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem.

De repente eu o vejo se transformar
No menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde vim.
Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim.

Dorme, menino levado
Dorme, que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem.

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu,
[Sentir-lhe] a barba me roçar
No derradeiro beijo seu.
E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus,
[Ouvir-lhe] a voz a me embalar
Num acalanto de adeus.

Dorme, meu pai sem cuidado
Dorme, que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter.

VINICIUS de MORAES

BEIJOS PARA AS MINHAS MUSAS,do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

João

Que momento tão bonito
"lindo de morrer"

Muito Obrigado

Leonor Antunes

Branca disse...

João,
fez-me ficar de lágrimas nos olhos com esta poesia de Vinicius de Morais.
Obrigada pelo presente.
Continuem inspirados.
Uma noite serena.
Beijinhos

iw disse...

Ahh! Tanto amor e tanto carinho nestes versos do Vinicius...
Obrigada
Beijos
Isabel