domingo, 30 de março de 2008

A Paróquia... Tinha de ser... mais tarde ou mais cêdo...

Olá Rapaziada
Olá Gente Boa,

Confesso-vos que tenho um sentimento muito estranho dentro de mim... Como já vos tinha dito, este espaço foi criado por uma brincadeira que resolvi fazer com meia dúzia de Manos e Manas que habitam o espaço do NMV... Para "me meter" com eles resolvi criar este espaço que na minha cabeça não teria nunca, maior duração que 3 ou 4 dias... pelos vistos, enganei-me! O problema é que tenho sido um péssimo gestor deste espaço e a minha consciência pesa-me cada vez que cá venho... Vocês não param de dar milho aqui ao pardal e o seu desaparecimento faz cada vez menos sentido... mas talvez, e é o que me parece fazer sentido, deva dar a chave de acesso a um dos intervenientes aqui deste espaço para que o pardal cresça menos desamparado; O XL, e agora a Barragem, não me deixam 1 minuto livre... Como já disse uma vez, nunca tinha experimentado a sençação de, num período cada vez mais prolongado, chegar todos os dias ao final do dia, com a perfeita noção de que faltam 4 horas ao dia... e é verdade... Têm-me mesmo faltado umas horitas ao dia, e as que consigo arranjar gosto de as passar com o NMV e seus Muchaxos, pessoalmente ou na Grande Catedral!

...e o nome, como não podia deixar de ser mudou, porque como vos expliquei no início era uma brincadeira "alternativa" feita a alguns intervenientes da Catedral do NMV - A ÚNICA CATEDRAL... Ora, se este espaço não desaparece, não faz qualquer sentido continuar com um nome que não lhe pertence nem nunca lhe pertenceu... e daí, como vocês sugeriram e a mim me parece muito bem, cá está... A Paróquia! Ainda pensei chamar-lhe "O Pardal - Poemas e Negócios" porque assim, cada vez que qualquer um de vocês deixasse aqui um contributo para a sobrevivência do espaço, poderíamos dizer que vieram dar milho ao pardal... Mas não, parece-me muito bem a Paróquia.

e para acabar, só dizer-vos que apesar de não dar muita atenção, tenho aprendido e de que maneira, com tanta coisa Fantástica que vocês aqui têm escrito... Parabèns a Vocês todos!

66 comentários:

Anónimo disse...

hehehe a criação suplantou o criador...heheheh

Anónimo disse...

Mano Vasco,

A Paróquia claro.

Parabéns

Abraço E Bjs para todos

Locomotiva

Branca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Branca disse...

Bom dia Vasquinho,
Mas que surpresa! Até que enfim apareceu o criador para baptizar definitivamente a Paróquia.
Gostei muito e como estou também com problemas de tempo logo volto para mais um miminho.
Beijinhos
Branca

Anónimo disse...

Bom Dia Paróquia,

Parabéns Vasco pelo seu Post.

Leonor Antunes

Anónimo disse...

BOA TARDE PAROQUIA

VASCO tu és para mim e continuarás a ser o PAI DA CRIANÇA.....
Conseguiste criar um espaço aonde são ditas coisas BONITAS, aonde as pessoas conseguem mostrar um pouco mais de si e assim os intervenientes se dão a conhecer melhor de uma forma completamente diferente!!!!!

Muitos parabens VASCO e apareçe por aqui mais vezez, pois fazes muita falta.

Um abraço muito grande do teu poeta!!!! e muitos beijos para as minhas MUSAS BRANCA,ISABEL e LEONOR,do mais velho.

João Ventura

Branca disse...

Vim aqui visitar os meus queridos amigos e que bem me sabe encontrá-los depois de um almoço a correr e antes de uma tarde de trabalho. Verifiquei que o meu comentário anterior ficou repetido, vou já apagar um deles, não se pode desperdiçar espaço numa paróquia que se preze.
Beijinhos para todos e muito particularmente para os homens desta Paróquia (passe a repetição), que se aguentam aqui firmes ao lado das ladies.
Tudo de bom.
Vossa eterna amiga.
Branca

Anónimo disse...

Boa tarde Paróquia,

Tenho andado um pouco arredada destas lides por falta de tempo, mas hoje não quero passar sem deixar aqui uma poesia que me recordo de ouvir/ver na RTP (na altura só havia essa opção!!!...)muito bem declamada pelo João Villaret:

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

Um beijinho
Paula

Branca disse...

Olá Paula,
Nem sabe a alegria que me deu e redobrada. Primeiro por ter voltado a estas lides e segundo por aparecer com um poema que sempre me disse muito em toda a minha vida. Aprendi a declamá-lo novinha, tinha um professor de Português muito exigente que também gosta muito deste texto, de forma que o sei quase todo de cor, continuo a vibrar com ele e a tê-lo como referência em algumas alturas da vida...
Muitos beijinhos
Branca

iw disse...

Maravilhoso este poema do José Régio!

Beijos
Isabel

Anónimo disse...

Paula

Que escolha linda

Beijos

V/Locomotiva

Anónimo disse...

Regresso

E contudo perdendo-te encontraste.
E nem deuses nem monstros nem tiranos
te puderam deter. A mim os oceanos.
E foste. E aproximaste.

Antes de ti o mar era mistério.
Tu mostraste que o mar era só mar.
Maior do que qualquer império
foi a aventura de partir e de chegar.

Mas já no mar quem fomos é estrangeiro
e já em Portugal estrangeiros somos.
Se em cada um de nós há ainda um marinheiro
vamos achar em Portugal quem nunca fomos.

De Calicute até Lisboa sobre o sal
e o Tempo. Porque é tempo de voltar
e de voltando achar em Portugal
esse país que se perdeu de mar em mar.

Manuel Alegre


Leonor Antunes

Anónimo disse...

Bom dia a todos,

Como está um lindo dia de sol, deixo aqui um pequeno poema alusivo:

Bendito

O Sol liquefaz-se, é rio;
A sua luz, água ao vento;
Sobre o mar turvo, cinzento,
Tem qualquer coisa de frio.

Chamam-lhe Deus os pagãos.
Depois, o Sol, quando passa
Solta os cabelos, com graça,
Deixa-nos oiro nas mãos...

Pedro Homem de Mello

iw disse...

Aurora boreal

Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.



António Gedeão

Anónimo disse...

BOM DIA PAROQUIA

Aqui vai mais um poema desse enorme Brasileiro VINICIUS, PARA AS MINHAS MUSAS,BRANCA,ISABEL,LEONOR e PAULA(desculpas pelos meus esquecimentos!!)

Parabens pelos vossos versos que me enchem a ALMA e o CORAÇÃO...

Soneto da separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Moraes Soneto da separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Moraes

BEIJOS PARA AS MINHAS MUSAS,do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

QUERIDAS MUSAS

As minhas desculpas pela repetição deste poema, mas por ser tão bonito até não faz diferença ser lido duas vezes.

BEIJOS PARA AS MINHAS MUSAS,do mais velho

João Ventura

Branca disse...

Também achei João, é tão lindo, tão lindo que repeti e acho que vou voltar a ler...muitas vezes.
Uma tradução perfeita de um estado de espírito.
Há poetas e momentos de poesia geniais, este é um deles.
Obrigada por mais esta bela partilha.

Obrigada também à Leonor pelas pérolas de Manuel Alegre que nos traz por aqui.

Paula,
Que versos lindos e luminosos de Pedro Homem de Melo, a trazerem-nos a alegria deste dia de sol!
O seu regresso à Paróquia tem sido todo ele cheio de luz.

Isabel,
António Gedeão, sempre único, que beleza de poema, tão cheio de tudo o que a vida tem.

Dos quatro que aqui deixaram, cada qual no seu género não se pode dizer qual o melhor, todos excepcionalmente bons, ou não fossem de grandes poetas... embora me comovam especialmente os que denotam sofrimento, é a minha costela de Madre Teresa de Calcutá...ah!ah!ah!

Qualquer dia expulsam-me da Paróquia, "Casa de Ferreiro espeto de pau", uma fazedora de poesia e tenho a distinta lata de não pôr cá nada...desculpem, não é má vontade, tem sido muita falta de tempo, fico a contemplar o que vocês trazem num intervalinho do trabalho como agora e à noite já estou cansadinha...vou tentar logo deixar-vos um presentinho...

Beijinhos grandes para o nosso poeta de serviço, único homem a dar-nos poesia e que poesia! E para as minhas amigas destas lides um grande abraço cheio de afectos.
Branca

iw disse...

Retribuo os afectos a todos e aproveito para vos deixar aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=02_T4Z0GDDQ&feature=related
é para ouvir e desfrutar.
Espero que gostem...
Beijinhos
Isabel

Branca disse...

Parabéns Vasco pelos 100 comentários no seu espaço, foi o PV que descobriu primeiro. É dia de festa!
E como é dia de festa aí vai este poema do António Lobo Antunes para brincar com os senhores desta Paróquia:

Sátira aos HOMENS quando estão com gripe

de ANTÓNIO LOBO ANTUNES



Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão-de-ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

Joana Freud... disse...

Em especial para o Mano Vasco.
Acho que esta ficava bem lá para os lados da Barragem.


«Sei de uma camponesa
Sem campo sem quintal
Que canta debruçada
Ao sol da seara
O trigo na cara
De suor tão debulhada

Sei de uma camponesa
Que dança à noite na eira
Perfumada de avenca e feno
Enfeitada de tomilho
E canta com a expressão
De quem vai ter um filho
Mesmo pelo coração

Sei de uma camponesa
Que nunca enche esta cidade
Nunca se senta à minha mesa
Nunca me leva à sua herdade
Para ouvir um trocadilho
Para tornar realidade
Um sonho que perfilho.»

Carlos Tê

Beijinhos.
Joana

Branca disse...

Isabel,
Voltei porque me esqueci de lhe dizer atràs que vi o filme que indicou e deliciei-me com a declamação e as imagens. Muito lindo mesmo!
Joana, muito lindo o poema da camponesa!
Beijinhos

VascoG disse...

Lindos lindos, são Vocês!!!
dia das mentiras, com coisas tão verdadeiras e tão incrívelmente bonitas! e os 100 comentários... são obra... do acaso, bem sei, mas não deixam de ser obra... Vossa!
Love you All

Anónimo disse...

Joana e Branca lindos os vossos poemas

Bjs e Obrigado

V/ Locomotiva

iw disse...

Delirei com este poema do Lobo Antunes! Cheio de humor...
Ainda estou a rir!!!

Tenho gostado imenso de todos os poemas, aliás!

Beijos a todos, cheios de boa disposição
Isabel

Anónimo disse...

BOM DIA PAROQUIA

QUE DIA TÃO BONITO!!!

Parabens VASCO pois os mais de 100 comentários aqui, a ti se devem...

E agora para as minhas MUSAS,BRANCA,ISABEL,LEONOR,PAULA E JOANA F.(Vasco aonde estão a sexta e a setima que não deslumbro?), aqui vai mais um do VINICIUS


SÃO DEMAIS OS PERIGOS DESTA VIDA

São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua

Vinicius de Moraes

BEIJOS PARAR AS MINHAS MUSAS,do mais velho

João Ventura

PS:ISABEL já vi o filme e adorei.
MUSAS parabens pelos vossos espantosos versos que como atrás já disse me enchem a ALMA e o CORAÇÃO.OBRIGADO.....

Joana Freud... disse...

Que beleza, João!
Beijinhos.
Joana

Anónimo disse...

João,

Lindo de morrer.Obrigado

Pablo Neruda

A noite na Ilha

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

Leonor Antunes

Joana Freud... disse...

Agora quem tem os olhos cheios de lágrimas sou eu, Leonor.
Obrigada.
Joana

Anónimo disse...

Paróquia

Eu vou tentar chegar um pouco à v/ dimensão , mas é impossivel.

BRANCA,ISABEL,LEONOR,PAULA E JOANA F, e o Meu Irmão vocês todos os dias escolhem poemas que são do outro Mundo.

Leonor fiquei como a Joana está tudo dito.

Eu sou pequenino mas muito muito sensivel e como digo na Catedral as campainhas tocam todas.

Muitos Bjs e Abraços da

V/Locomotiva

Anónimo disse...

BOM DIA PAROQUIA
BOM DIA MINHA CINCO MUSAS(aonde estão as outras DUAS do MANO VASCO que ainda não encontrei?)

Aqui vai o meu verso do dia da SOPHIA de MELLO BREYNER, como sempre dedicado ás minhas MUSAS e hoje tambem ao meu irmão choroso LOCOMOTIVA



"PORQUE"


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner

BEIJOS PARA TODAS AS MINHAS MUSAS E HOJE PARA O LOCOMOTIVA,do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

João ainda não percebeste que a tua 6ª Mussa é o Bébé e a sétima pensa lá um bocado

Dou-te uma pista escreve c/ letras grandes........

Locomotiva

Anónimo disse...

LOCOMOTIVA

Não me digas que as duas MUSAS a mais do VASCO são o Tal de Bébé e o Filho de Egas.

Nesse caso prefiro ficar com as minhas cinco MUSAS e que o VASCO fique com as outras duas

João Ventura

Branca disse...

Amigo João,
O que que me ri com este seu último comentário!
Até porque estou com um problema sério, preciso do masculino de Musa e parece que não existe, será que as outras ladies da Paróquia me podem encontrar um equivalente? É que embora ontem lesse todos os vossos poemas, que foram de uma qualidade única, adoro Neruda, adoro Vinicius de Morais, sei lá, saí daqui emocionada, mas por isso mesmo nem escrevi, nem me tenho atrevido a colocar poemas por falta de tempo para encontrar uma pérola que seja digna do nosso....(e é aqui que devia entrar o masculino de musa). Pois é assim, eu tinha prometido um presente ao João no dia em que coloquei aquela sátira do Lobo Antunes, mas o presente não era esse, não encontrei nenhum que me satisfizesse, aquela brincadeira encontrei-a por acaso nos meus arquivos enquanto procurava a tal pérola e espero que os manos não tenham levado a mal, foi escrito por um homem...
Tenho tido uns dias muito cansativos e peço perdão pelo atraso João, mas hoje sim, vou deixar-lhe um presente para si e para todos os leitores deste espaço, também para pôr o PV com os sinos a tocar, espero eu, por mim, achei-o lindíssimo.
Beijinhos

P.S. O presente vai entrar a seguir.

Branca disse...

Para o nosso.....querido e inspirador amigo João e para o seu mano Pedro:

Estas palavras vestidas de silêncio que damos um ao outro como pétalas de flores dispersas, dizem tanto daquilo que sabemos, que às vezes julgo escutar os gritos lancinantes que deixamos escapar das feridas por fechar e calamo-nos, com adesivos sobre os lábios, fechando as portas e as janelas para que o vento não empurre os gritos
para fora das muralhas dos nossos corpos ávidos.
Depois, contemplamo-nos como se nos víssemos pela primeira vez, e afagamo-nos em mútuas carícias impregnadas de um medo inconfessado que nos percorre as veias do silêncio dissimuladas sobre os nossos corpos.
Ah! por que não havemos de gritar o necessário desejo de estar vivos?
Quem nos proíbe, Amor, de nos tocarmos numa descoberta mútua e sempre nova de um espaço à nossa volta?
Quem?
Quem nos impede, Amor, aquele abraço, num ímpeto incontido de rasgar o espaço que separa as minhas mãos das tuas mãos?
Quem nos proíbe, Amor, que troquemos de segredos em cada beijo partilhado no silêncio das nossas bocas sequiosas?
Quem?
Quem impede, afinal, esta vontade de nos darmos um ao outro sem medo das ruas e avenidas que nos falam da cidade vigilante a observar-nos os passos e os gestos, a medir a intensidade das palavras que se propagam no eco do silêncio como um grito de angústia?
Outro dia, as minhas mãos sobre as tuas mãos ou o meu cabelo sobre o teu cabelo falaram durante horas a linguagem muda do desejo de nos termos, sem angústias nem reservas. E de lábios cerrados tivemos a mais longa conversa sobre o nosso amor.
Lá à frente o azul do mar e a suja areia, ao nosso lado, o calor das nossas mãos que se apertavam num estranho código de náufragos, entrelaçando os dedos e juntando as faces, resistindo ao desespero das ondas que teimavam afastar-nos um do outro (como o mundo à nossa volta).
Ninguém foi testemunha desse instante gravado apenas no silêncio clandestino das nossas memórias fugitivas.
Só nós (porque o mundo à nossa volta éramos nós) temos o direito de falar desse instante de amor, porque o vivemos num desespero rápido de quem sabe que o amor é um relâmpago rasgando a densa cortina do desejo e, quando um dia falarmos deste amor que pairou sobre as mãos entrelaçadas, ninguém entenderá este silêncio que se sobrepôs ao grito do teu peito, ninguém entenderá este poema que narra o desespero de não te ter aqui, neste instante em que te amo, mais e mais, clandestinamente, e em silêncio.

(in A Linguagem do Silêncio)

FERNANDO PEIXOTO

Branca disse...

VasquinhoG,
Esta dedicatória é só para si que é um dos nossos três...(masculino de musas?)mosqueteiros(que acham meninas? Lembrei-me agora assim de repente, mas aceitam-se outros nomes mais sugestivos).
Vasco, cadê um poema seu, inspirado nas águas da barragem?
Estou a ver, já tem poesia ao natural, não precisa de ilusões...ah!ah!ah!
Desejo-lhe um sono descansadinho nas suas sete almofadas.
Beijinhos

Anónimo disse...

Branca

Você pôs mais uma vez as campainhas sinos tudo a tocar

Muito mas muito obrigado e sensibilizado parto para o dia

V/Locomotiva

Anónimo disse...

Paróquia

Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

...................................


É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Leonor Antunes

Anónimo disse...

BOM DIA PAROQUIA

Minhas adoradas cinco MUSAS +Locomotiva, os vossos versos e comentários deixam a transbordar de alegria....Obrigado a todos e como agradecimento aqui vos deixo mais este verso

NAMORO

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha

um sorrir luminoso tão quente e gaiato

como o sol de Novembro brincando

de artista nas acácias floridas

espalhando diamantes na fímbria do mar

e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...

Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas

sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo

tão rijo e tão doce - como o maboque...

Seus seios, laranjas - laranjas do Loje

seus dentes... - marfim...

Mandei-lhe essa carta

e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão

que o amigo Maninho tipografou:

"Por ti sofre o meu coração"

Num canto - SIM,

noutro canto - NÃO

E ela o canto do NÃO dobrou


Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete

pedindo, rogando de joelhos no chão

pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,

me desse a ventura do seu namoro...

E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama

a areia da marca que o seu pé deixou

para que fizesse um feitiço forte e seguro

que nela nascesse um amor como o meu...

E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,

ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,

paguei-lhe doces na calçada da Missão,

ficamos num banco do largo da Estátua,

afaguei-lhe as mãos...

falei-lhe de amor...

e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,

como um mona-ngamba.

Procuraram por mim

"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"

E perdido me deram no morro da Samba.


Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.


Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Viriato Cruz

BEIJOS PARA TODOS,do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

Paróquia

Em homenagem a um dos nossos locais/encontro

Canoa de vela erguida,
Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota, que andas perdida,
Sem encontrar companheira

O vento sopra nas fragas,
O Sol parece um morango,
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango

[refrão:]
Canoa,
Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas voltas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem

[1:]
Canoa,
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais

Canoa de vela panda,
Que vens da boca da barra,
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra

Teu arrais prendeu a vela,
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela,
Não vá o mar acordá-lo

V/Locomotiva

iw disse...

Meu caro irmão degredado
Vive longe, n’além-mar,
Não por força de mandado
Que lá o obrigue a ficar;
Mas por ter ele nascido
Da mesma pátria que a minha,
Tenho esse irmão foragido
Que em outras terras caminha
Com os passos em que sigo
Deste lado do oceano,
E vive no mesmo abrigo
Em que vivo o desengano
De ser eu o condenado
Nesta língua que é tão minha,
A viver este legado
De Pero Vaz de Caminha
Enquanto, distante, soa
A voz desse irmão que chama
E, insuspeitado, ecoa
No coração que se inflama
C’os fados de dor da Alfama,
E os cais da velha Lisboa,
E a cegueira de quem ama
Nessas saudades à-toa
O mar de Camões, e além,
As brumas todas do Porto
E as palavras que em mim jazem
— e as lendas que se refazem —
À sombra do poeta morto.

Robertson Frizero Barros

Joana Freud... disse...

Toda a manhã
Fui a flor
Impaciente por abrir.

Toda a manhã
Fui ardor
Do sol
No teu telhado.


Toda a manhã
Fui ave
Inquieta
No teu jardim.

Toda a manhã
Fui ave ou sol ou flor
Secretamente
Ao pé de ti.

Eugénio de Andrade

Bom Domingo!
Beijinhos.
Joana

Anónimo disse...

Olá distintos membros da Paróquia:

Branca, tenho andado a matutar numa designação adequada correspondente a musas no masculino, mas ainda não me ocorreu nenhuma...

Hoje deixo aqui um poema, algo diferente, mas que continua muito actual:

ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI

Acabemos com este maelstrom de chá morno!
Mandem descascar batatas simbólicas a quem disser que não há tempo para a criação!
Transformem em bonecos de palha todos os pessimistas e desiludidos!
Despejem caixotes de lixo à porta dos que sofrem da impotência de criar!
Rejeitem o sentimento de insuficiência da nossa época!
Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia!
Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo!
Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo!
Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual!
Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação!
Façam com que educar não signifique burocratizar!
Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais!
Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas!
Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva!
Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida!
Dispensem todas as teorias passadistas!
Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos!
Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"!
Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos!
Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo!
Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista!
Criem a vossa experiência e sereis os maiores!
Morram todos os derrotismos! Morram! PIM!

José de Almada Negreiros

Anónimo disse...

BOA NOITE PAROQUIA

Queridas Musas parabens pelas vossas maravilhosas esclhas.

Agora vai uma das letras das musicas que mais marcou a minha feliz juventude......

A ma fille


Je sais qu'un jour viendra car la vie le commande
Ce jour que j'appréhende où tu nous quitteras
Je sais qu'un jour viendra où triste et solitaire
En soutenant ta mère et en traînant mes pas
Je rentrerai chez nous dans un "chez nous" désert
Je rentrerai chez nous où tu ne seras pas.

Toi tu ne verras rien des choses de mon cœur
Tes yeux seront crevés de joie et de bonheur
Et j'aurai un rictus que tu ne connais pas
Qui semble être un sourire ému mais ne l'est pas
En taisant ma douleur à ton bras fièrement
Je guiderai tes pas quoique j'en pense ou dise
Dans le recueillement d'une paisible église
Pour aller te donner à l'homme de ton choix
Qui te dévêtira du nom qui est le nôtre
Pour t'en donner un autre que je ne connais pas.

Je sais qu'un jour viendra tu atteindras cet âge
Où l'on force les cages ayant trouvé sa voie
Je sais qu'un jour viendra, l'âge t'aura fleurie
Et l'aube de ta vie ailleurs se lèvera
Et seul avec ta mère le jour comme la nuit
L'été comme l'hiver nous aurons un peu froid.

Et lui qui ne sait rien du mal qu'on s'est donné
Lui qui n'aura rien fait pour mûrir tes années
Lui qui viendra voler ce dont j'ai le plus peur
Notre part de passé, notre part de bonheur
Cet étranger sans nom, sans visage
Oh ! Combien je le hais
Et pourtant s'il doit te rendre heureuse
Je n'aurai envers lui nulle pensée haineuse
Mais je lui offrirai mon cœur avec ta main
Je ferai tout cela en sachant que tu l'aimes
Simplement car je t'aime
Le jour, où il viendra.

Charles Aznavour

BEIJOS PARA AS MINHAS CINCO MUSAS, do mais velho

João Ventura

Anónimo disse...

BOA TARDE PAROQUIA

Para as minhas cinco MUSAS


Quanto de ti, Amor...
Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço

em que de penetrar-te me senti perdido

no ter-te para sempre -

Quanto de ter-te me possui em tudo

o que eu deseje ou veja não pensando em ti

no abraço a que me entrego -

Quanto de entrega é como um rosto aberto,

sem olhos e sem boca, só expressão dorida

de quem é como a morte -

Quanto de morte recebi de ti,

na pura perda de possuir-te em vão

de amor que nos traiu -

Quanta traição existe em possuir-se a gente

sem conhecer que o corpo não conhece

mais que o sentir-se noutro -

Quanto sentir-te e me sentires não foi

senão o encontro eterno que nenhuma imagem

jamais separará -

Quanto de separados viveremos noutros

esse momento que nos mata para

quem não nos seja e só -

Quanto de solidão é este estar-se em tudo

como na auséncia indestrutível que

nos faz ser um no outro -

Quanto de ser-se ou se não ser o outro

é para sempre a única certeza

que nos confina em vida -

Quanto de vida consumimos pura

no horror e na miséria de, possuindo, sermos

a terra que outros pisam -

Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,

recebo gratamente como se recebe

não a morte ou a vida, mas a descoberta

de nada haver onde um de nós não esteja

Jorge de Sena














Olhando o mar











Sempre que fito o mar

tenho a ilusão de achar-me diante

de um silêncio amplo, ondulante,

de um silêncio profundo,

onde vozes lutassem por gritar,

por lhe fugirem do invisível fundo.


Diante do mar eu fico triste,

nessa mudez de quem assiste

reproduções do próprio dissabor;

diante do mar eu sou um mar,

a outro de apor

e a se indeterminar.


O mar é sempre monotonia,

na calmaria

ou na tempestade.

Fujo de ti, ó mar que estrondas!

porque a tristeza que me invade

tem a continuidade

das tuas ondas...

Mas te amo, ó mar, porque minha alma e a tua

são bem iguais: ambas profundamente

sensíveis, e amplas, e espelhantes;

nelas o ambiente

atua

apenas superficialmente...


Calma de cismas, de êxtases, de sonhos,

desesperos medonhos,

ânsias de azul, de alturas...

- Longos ou rápidos instantes

em que me transfiguro, em que te transfiguras...

Nos nossos sentimentos sem represa,

nas nossas almas, quanta afinidade!

- Tu sentindo por toda a natureza!

- Eu sentindo por toda a humanidade!

Nos dias muito azuis, o meu olhar,

atento,

a descer e a se elevar,

supõe o mar um espreguiçamento

do céu e o céu um êxtase do mar.


Há nos ritmos da água

marinha uma poesia, a mais completa,

essa poesia universal da mágoa.


O mar é um cérebro em laboração,

um cérebro de poeta;

nas suas ondas, vêm e vão

pensamentos, de roldão.


O mar,

imperturbavelmente, a rolar, a rolar...

O mar... - Concluo sempre que metido

em sua profundeza e em sua vastidão:

- o mar é o corpo, é a objetivação

do espaço, do infinito.

Gilka Machado



Ódio?


Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,

Se tanto bem lhe quis no meu passado,

Se o encontrei depois de o ter sonhado,

Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto

Turva o meu triste olhar, marmorizado,

Olhar de monja, trágico, gelado

Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! nunca mais amá-lo é já bastante!

Quero senti-lo d’outra, bem distante,

Como se fora meu, calma e serena!


Ódio seria em mim saudade infinda,

Mágoa de o ter perdido, amor ainda.

Ódio por ele? Não... não vale a pena...



Florbela Espanca


BEIJOS PARA AS MINHAS MUSAS,do mais velho

joão ventura

Joana Freud... disse...

Obrigada, querido João!
Muitos beijinhos.
Joana

Anónimo disse...

Mais Velho apesar de irmão não me fica nada mal antes pelo contrário dar-te os parabéns

Tens alimentado a Paróquia ´com poemas lindos.

Parabéns

V/ Locomotiva

Anónimo disse...

Bom Dia Paróquia

João muito obrigado que beleza.

Para quem como eu adora o Rio de Janeiro:


Poema ao Rio de Janeiro
Neruda dedicou ao Rio de Janeiro em sua obra Odes elementales, de 1954, extenso poema. Parcialmente, alguns versos:

Rio de Janeiro, el agua
es tu bandera,
agita tus colores,
sopla y suena el el viento,
ciudad,
náyade negra,
de claridad sin fin,
de hirviente sombra,
de piedra con espuma
es tu tejido,
el lúcido abalance
el encendido ramo
de tus ojos.
...Oh Belleza,
oh, ciudadela
de piel forforecente,
granada,
de carne azul, oh diosa,
tatuada en sucesivas
Olas de ágata negra,
de tu desnuda estatua,
de tu hamaca marina,
el azul movimiento de tus pies arenosos,
sale un aroma de jazmín mojado
por el sudor, un ácido
relente
de cafetales y de fruterías
y poco a poco bajo tu diadema,
entre la duplicada maravilla
de tus senos,
entre cúpula y cúpula
de tu naturaleza
asoma el diente de la desventura,
la cancerosa cola
de la miseria humana,
en los cerros leprosos,
el racimo inclemente
de las vidas...

Leonor Antunes

Anónimo disse...

Realmente é fantástico interromper um trabalho «secante» e passar por aqui. A mente sai logo revigorada com esta maravilha de textos.

Obrigada a todos os que continuam a pesquisar e a transcrever poesias excepcionais, com particular destaque para o JV.

Continuem
Um beijinho
Paula

Branca disse...

Queridos amigos,
tenho estado um pouco ausente neste espaço, mas só na participação, tenho lido os vossos maravilhosos poemas e o nosso querido João continua resistente e actuante no meio das suas musas.
Apreciei muito a participação do PedroV com o poema de Frederico de Brito cantado pelo Carlos do Carmo e fiquei de olhos húmidos com algumas escolhas. Todos os poemas são maravilhosos.
Obrigada João por ter trazido Florbela Espanca, acho que foi a primeira poetisa a aparecer aqui, é muito lindo esse poema, muito sofrido e cheio de vida...
Beijinhos.
Beijinhos a todos.
Branca
Vocês são todos almas sensíveis e maravilhosas.
Beijinhos grandes
Branca

Anónimo disse...

Olá Branca e Paroquianos,

Por acaso esse não foi o 1º poema de Florbela Espanca aqui neste espaço. Só que me esqueci de identificar a autora quando transcrevi «VOZES DO MAR». Mas como dizia a outra «isso agora também não interessa nada...». Vou ver se me vejo livre deste maldito artigo científico para tb poder contribuir...
Um beijinho
Paula

Anónimo disse...

Hoje deixo aqui a letra de uma música da minha adolescência. Não dá para cantar mas estou certa que muitos se lembrarão....

Un beau roman (une belle histoire)

C'est un beau roman, c'est une belle histoire
C'est une romance d'aujourd'hui
Il rentrait chez lui, là-haut vers le brouillard
Elle descendait dans le midi, le midi
Ils se sont trouvés au bord du chemin
Sur l'autoroute des vacances
C'était sans doute un jour de chance
Ils avaient le ciel à portée de main
Un cadeau de la providence
Alors pourquoi penser au lendemain

Ils se sont cachés dans un grand champ de blé
Se laissant porter par les courants
Se sont racontés leur vies qui commençaient
Ils n'étaient encore que des enfants, des enfants
Qui s'étaient trouvés au bord du chemin
Sur l'autoroute des vacances
C'était sans doute un jour de chance
Qui cueillirent le ciel au creux de leurs mains
Comme on cueille la providence
Refusant de penser au lendemain

C'est un beau roman, c'est une belle histoire
C'est une romance d'aujourd'hui
Il rentrait chez lui, là-haut vers le brouillard
Elle descendait dans le midi, le midi
Ils se sont quittés au bord du matin
Sur l'autoroute des vacances
C'était fini le jour de chance
Ils reprirent alors chacun leur chemin
Saluèrent la providence en se faisant un signe de la main

Il rentra chez lui, là-haut vers le brouillard
Elle est descendue là-bas dans le midi
C'est un beau roman, c'est une belle histoire
C'est une romance d'aujourd'hui

Michel Fugain
Pierre Delanöe

Uma noite descansada
Paula

Branca disse...

Paula,
Peço desculpa, já não me lembrava de "Vozes do Mar", de qualquer forma não o identificaria como sendo de Florbela Espanca, mas na verdade gosto particularmente deste aqui acima que já tinha lido, embora seja fruto de um estado de alma muito amargo...

E agora deixo-vos com Eugénio de Andrade:


As Mãos e os Frutos


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.


Para uma reflexão sobre o mundo de hoje.

Beijinhos

Joana Freud... disse...

Paula,
Ainda sei essa música de cor e salteado!
Beijinhos para todos.
Joana

Anónimo disse...

PAROQUIA

Minhas queridas cinco MUSAS aqui vai mais um poema....


Há Dias

Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo
nos cai em cima
depois ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam
não lhes sei o nome
uma ou outra parece-me comigo
quero eu dizer :
com o que fui
quando cheguei a ser luminosa
presença da graça
ou da alegria
um sorriso abre-se então
num verão antigo
e dura
dura ainda.


Eugénio de Andrade

Espero que o vosso dia de hoje seja do melhor!!!!

BEIJOS, do mais velho

João Ventura

Branca disse...

Ena João,
Conseguiu surpreender-me, leio tanta poesia de Eugénio de Andrade, mas não me recordo de ter lido este poema.
Realmente crianças sempre nos fazem abrir um sorriso, pelo menos a mim fazem, mesmo que esteja na maior das "fossas".
Beijinhos para todos.
Branca

Anónimo disse...

Olá Paroquianos,

Finalmente concluí aquele horroroso artigo científico, e para mal dos meus pecados liguei a televisão e não é que o debate da assembleia era sobre o mesmo tema??? Graças a Deus que eles não enveredaram pelas especificidades senão dava-me uma coisa má!

Então, para celebrar, hoje deixo-vos com VINICIUS DE MORAES.

(O primeiro é uma brincadeira aos meus «inquilinos» da chaminé, que hoje devem estar em plena «rave party» lá em cima!!!!)

A um passarinho


Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.


Deixa-te de histórias
Some-te daqui!


Poema enjoadinho


Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

E após este pequeno intervalo, toca a pegar no batente que há mais trabalho em «stand by»...
Um beijinho
Paula

Joana Freud... disse...

Filhos tê-los sempre!!!
Beijinhos e bom fds.
Joana

Branca disse...

Lindos os poemas Paula!
Vinicius era genial!
Que coisa mesmo linda que os filhos são!
Bom fim de semana.
Beijinhos

iw disse...

Urgentemente

É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade


Beijinhos a todos
Isabel

Branca disse...

Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade

Uma boa semana
Abraços e beijinhos para todos.
Branca

Anónimo disse...

Olá Ilustres Paroquianos,

Hoje queria deixar aqui uma reflexão sobre a falta de cultura geral das camadas jovens. É claro que há excepções, mas o grosso da coluna desconhece informações básicas.

Então lá vai:

Estava eu a consultar o tomo 4 da Enciclopédia do Cão (da qual há cerca de 5 anos, traduzi os tomos 1 e 2 e uma tradutora jovem o 3 e o 4), em busca de uns dados sobre o Carlin (ou Pug) – uma espécie de bulldog miniatura – quando deparei com o seguinte texto:
«No século XVII, chegou a França onde foi adoptado por Josefina de Beauharnais e mais tarde por Maria Antonieta» .
O QUÊ???? - exclamei eu, só se fosse um episódio do «Twillight Zone» ou um milagre! A outra infeliz já tinha há muito ficado sem cabeça, quando a Josefina do Napoleão se tomou de amores pelo canito!
Fui consultar o texto original, e claro, era um erro de tradução, «après - depois» foi traduzido por «e depois = mais tarde».

Onde é que eu quero chegar com isto? Não é «armar em carapau de corrida» e afirmar que sou muito culta! Não! O que me parece é inadmissível que uma licenciada em Letras, na altura a realizar um mestrado, que teve História tanto no liceu como na Faculdade, cometa um erro crasso desta natureza!
Todos nós por cansaço, podemos ler ou interpretar erradamente uma palavra, uma frase ou um texto (se bem que na minha profissão é bastante grave) mas o que está aqui em causa é o facto de ela nem sequer ter reparado no disparate em termos de contexto histórico!
O que me traz à memória um programa da televisão sobre a incultura dos jovens, onde surgiram «pérolas» como esta:

Entrevistador: Sabe quem foi Picasso?
Entrevistado: Ah, não sei, desculpe, mudei para esta rua há pouco tempo....

Entrevistador: (À porta do Técnico) Qual é a raiz quadrada de 9?
Entrevistado: (Aluno do 4º ano de Engenharia) Olhe, não sei, não tenho aqui a calculadora....

Entrevistador: (À porta da Faculdade de Letras) Onde fica o Templo de Diana?
Entrevistado: (Aluna do 3º ano) Na Grécia....

E muitas mais, só que já não me recordo!!!

Desculpem o desabafo, mas é uma coisa que me desespera! Sobretudo hoje em dia, que basta clicar no Google, para verificar qualquer dúvida que surja....

Então, «Back to work!», agora passo aos gatos.

Um beijinho
Paula

Anónimo disse...

BOA TARDE PAROQUIA

Aqui vai um poema musical que muito me toca por ter conhecido e conhecer ainda bem a realidade de uma grande terra chamada ANGOLA.

Dedicado ás minhas MUSAS que continuam cada vez mais a encher-me a ALMA com coisas bonitas!



Os Meninos De Huambo (Paulo De Carvalho)


Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia

Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar

Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

BEIJOS,do mais velho

João Ventura

Joana Freud... disse...

EU VOU AO ALMOÇO DA CATEDRAL!!!
Joana

Anónimo disse...

[url=http://acquistogenericoviagra.net/]comprare viagra[/url] viagra acquisto
[url=http://achatgeneriquecialis.net/]cialis medicament[/url] acheter cialis generique
[url=http://buykamagrahere.net/]kamagra oral jelly[/url] price kamagra
[url=http://acheter-cialis-generique.net/]cialis medicament[/url] cialis

Anónimo disse...

[url=http://kaufencialisgenerikade.com/]cialis preise[/url] cialis rezeptfrei
[url=http://acquistocialisgenericoit.com/]cialis[/url] cialis in farmacia
[url=http://comprarcialisgenericoes.com/]cialis[/url] cialis comprar
[url=http://achatcialisgeneriquefr.com/]cialis[/url] cialis acheter

Anónimo disse...

[url=http://achetercialisgenerique20mg.net/]commander cialis[/url] cialis 10mg generique
[url=http://comprarcialisgenerico10mg.net/]cialis precio[/url] cialis 10 mg
[url=http://acquistarecialisgenerico10mg.net/]costo cialis[/url] prezzo cialis 5 mg
[url=http://kaufencialisgenerika10mg.net/]cialis[/url] cialis